Lúcio e os Girassóis
Lúcio sempre soube que seu coração pertencia ao sol. Desde criança, colecionava girassóis—seus campos amarelos lembravam-lhe a promessa de luz mesmo nos dias mais sombrios. Quando adoecera, algo nele já não vibrava como antes. Em seus últimos dias, Lúcio abraçou a ideia de que sua alma flutuaria livre, desprendida do corpo físico, e pediu: “Meu coração quer se espalhar como pétalas ao vento.”
No dia em que partiu, a família antecipou a cerimônia reservando a sala de velório. Para que tudo ficasse à altura do amor que Lúcio tinha pelos girassóis, encomendou à Fina Flor a decoração do ambiente. Logo pela manhã, os floristas chegaram ao salão silencioso e, com cuidado, posicionaram arranjos de girassol nas colunas laterais. Em cada canto, deixaram uma promessa de renascimento para o coração dos que ali chegassem.
Enquanto os visitantes começavam a se reunir, a sala transformou-se em um campo dourado. Os arranjos de girassol mantiveram-se discretos, mas suficientemente vistosos para iluminar cada rosto entristecido. O perfume levemente terroso criou uma atmosfera calma, quase reconfortante.
Quando o corpo de Lúcio chegou, a lembrança do sorriso suave de quem sempre encontrou esperança na simplicidade dos girassóis ganhou um pano de fundo dourado. Amigos e parentes caminhavam lentamente pelo salão, detendo-se diante de cada arranjo. Olhavam as hastes com delicadeza, recordando as histórias de Lúcio: como ele sorria de olhos fechados ao sol, como guardava sementes para plantar na primavera. A decoração da Fina Flor oferecia o cenário exato para que cada pessoa pudesse sentir esse pulsar solar mesmo em meio à dor.
No momento do adeus final, a família procurou uma última conexão simbólica: pediu a cada visitante que colhesse um girassol pequeno dos arranjos disponíveis e, ao final do sepultamento, depositasse a flor sobre a tampa. Em seguida, um silêncio reverente dominou o local. Cada pétala dourada, ao roçar levemente a tampa da sepultura, lembrava a presença vibrante de Lúcio mesmo em sua ausência física.
Apesar do silêncio a memória de Lúcio seguia viva: era o brilho das pétalas, agora abrigadas em corações e lembranças, que mostrava que, embora seu corpo tivesse partido, sua alma ainda florescia em cada girassol que ergueu-se para o sol.
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